Após ameaça na TV, Bolsonaro diz agora que não há “nada para fazer” se perder



"Vamos ganhar essas eleições no primeiro turno. A diferença será tão grande que será impossível qualquer possibilidade de fraude", disse o deputado Jair Bolsonaro (PSL-RJ) em vídeo exibido durante as manifestações em seu apoio que povoaram a avenida Paulista ao longo de quatro quarteirões, entre a Alameda Peixoto Gomide e a Alameda Joaquim Eugênio de Lima, em São Paulo, o maior das dezenas de atos favoráveis ao candidato a presidente neste domingo. A mensagem de Bolsonaro, exibida em um telão posicionado ao lado de um dos quatro caminhões de som, modula um pouco o discurso do capitão reformado do Exército.

Bolsonaro vinha dizendo em entrevistas que não aceita outro resultado que não sua eleição. Mais tarde, apareceria uma declaração ainda mais explícita de que estava recuando em sua ameaça, que foi feita em dois canais da TV aberta, Band e TV Globo. "Sei que não tenho nada para fazer (em caso de derrota). O que quis dizer é que não iria, por exemplo, ligar para o Fernando Haddad depois e cumprimentá-lo por uma vitória", disse agora Bolsonaro ao jornal O Globo.
A entrevista de Bolsonaro –com avanços e desmentidos à maneira que Donald Trump costuma fazer para atrair holofotes– e a sinalização de que ele está de novo à frente da campanha, após a temporada hospitalar se recuperando de um atentado a faca, acontecem um dia depois do protesto #EleNão. Promovida por mulheres, a mobilização reuniu centenas de milhares de pessoas em cidades espalhadas por todos os Estados brasileiros no sábado. Na mesma gravação exibida na Paulista, o candidato à Presidência menciona as expressões "PT não, PT nunca mais", numa referência aos motes "ele não, ele nunca" dos opositores.
Os atos a favor de Bolsonaro organizados em diversas cidades no sábado em no domingo serviram para responder aos protestos convocados contra sua candidatura e apoiados por alguns de seus adversários, como Marina Silva (Rede), o tucano Geraldo Alckmin (que usou a hashtag da campanha na TV),  Guilherme Boulos (PSOL), Fernando Haddad (PT) e Ciro Gomes (PDT) — a representante de Ciro no ato organizado no Largo da Batata, em São Paulo, foi sua vice, a senador Kátia Abreu (PDT) enquanto a vice na chapa petista, Manuela D'Ávila, foi à marcha em Porto Alegre. Enquanto os críticos de Bolsonaro usavam preto, roxo (também a cor do movimento feminista) e vermelho, seus apoiadores voltaram a colorir a avenida Paulista de amarelo anos depois das manifestações pelo impeachment de Dilma Rousseff. Em 2016, o capitão reformado do Exército ainda parecia longe de se transformar em um candidato viável à Presidência da República. Neste domingo, os organizadores do evento chegaram a calcular em 1,8 milhão a quantidade de manifestantes. A julgar pelas maiores manifestações pelo impeachment de Dilma, que reuniram na avenida 500.000 pessoas segundo o Datafolha, ocupando a av. Paulista completa, o número não parece realista. Para efeito de comparação, o tramo final da manifestação #Elenão, no sábado, na av. Paulista, foi maior, se espalhando do Masp à av. da Consolação.
Mas isso não quer dizer que a mobilização não tenha sido significativa. Os quatro quarteirões ocupados pela manifestação não estavam completamente preenchidos, mas a concentração em torno dos quatro carros de som era grande, a ponto de dificultar a locomoção. Da mesma forma, em Brasília, os apoiadores do deputado do PSL fizeram sentir sua presença nas ruas. De acordo com a Polícia Militar do Distrito Federal, 25.000 veículos passaram pela Esplanada dos Ministérios entre 8h40 da manhã e 13h45, período em que ocorreram as carreatas a favor de sua candidatura. De dentro dos seus veículos ou a pé, os apoiadores de Bolsonaro gritavam palavras de ordem como “eu vim de graça”, “fora PT” e “mito”. Muitos simulavam armas com as mãos, um dos gestos mais característicos do militar reformado do Exército. De acordo com o último Ibope, Bolsonaro tem 41% das intenções de voto no Distrito Federal, bem à frente do segundo colocado, o petista Fernando Haddad (14%).
Os atos a favor de Bolsonaro também foram significativos no Espírito Santo e no Rio de Janeiro, este último ontem, mas, para além das capitais, se espalharam por várias cidades de médio porte como atestam vários vídeos distribuídos por meio das redes sociais. O mais expressivo, como de costume, foi o organizado em São Paulo, mas a mobilização, convocada para as 15h, acabou antes do que se esperava, por conta de uma forte chuva — por volta das 17h, alguns deputados ainda discursavam, mas para um público reduzido.
Os manifestantes se reuniram desde cedo na região, já que a avenida Paulista fecha aos domingos para os carros. Muitos dos apoiadores usavam camisas da seleção brasileira ou com a frase "Meu partido é o Brasil", com a qual Bolsonaro estava quando levou uma facada no dia 6 de setembro, em Juiz de Fora (MG). De cima dos carros de som, candidatos a deputado federal criticavam não apenas o PT, mas partidos como MDB e PSDB. Outros pediam votos aos eleitores de João Amoêdo (Novo), Álvaro Dias (Podemos), Henrique Meirelles (MDB) e Geraldo Alckmin (PSDB), para que a eleição se encerre no primeiro turno.
"Já tomamos purpurinada, ovada, cusparada e até facada. Quem são os intolerantes? Por que, quando artista fala que vai votar em outro candidato, é democracia, e quando a gente fala que vai votar em Jair Boolsonaro, a gente quer ditadura?", questionou o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) do alto de um dos carros de som. Em outro momento, o deputado que concorre à reeleição disse que “as mulheres de direita são mais bonitas que as da esquerda". "Elas não mostram os peitos nas ruas e nem defecam nas ruas. As mulheres de direita têm mais higiene”, completou. Só foram registrados alguns momentos de tensão depois que a forte chuva que caiu na Paulista concentrou os manifestantes no vão livre do MASP. A rápida intervenção da Polícia evitou que os desentendimentos entre apoiadores e opositores de Bolsonaro tivesse consequências de relevo.

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