Quem são os indecisos, o que querem e como conquistá-los? Pode
parecer um clichê em reta final de campanha, mas as respostas para essas
perguntas podem colocar e tirar candidatos à Presidência do segundo
turno – ou até definir o pleito já no dia 7 de outubro. De acordo com as
últimas pesquisas Datafolha e Ibope, entre 15% e 18% da população que
vai às urnas no próximo domingo ainda não definiu o voto. O
percentual sem candidato diminui a cada pesquisa feita, mas ainda é
alto – e são essas pessoas que devem ser o principal alvo de políticos
na última semana de campanha. De acordo com as pesquisas, esse eleitor
tende a ser mulher de meia idade, com baixa escolaridade, renda familiar
de até um salário mínimo e mora na periferia ou interior das regiões
Norte e Centro-Oeste do país, áreas que recebem menos visitas de
presidenciáveis do que Sudeste e Nordeste, maiores colégios eleitorais
do Brasil. O cientista político e professor da Universidade de
Brasília (UnB) Lucio Remuzat Rennó Junior avalia a dificuldade de
alcançar os indecisos por eles não serem um grupo homogêneo. "O
público indeciso pode sê-lo por vários motivos: dúvida entre candidatos,
ambivalência acerca de um político ou incerteza sobre propostas. Há
ainda as pessoas indiferentes à política, não há um discurso que as
motive. Elas vão se abster ou votar seguindo a opinião de alguém. Nesses
casos não há uma responsabilidade do candidato em motivá-las. Mas, em
uma eleição onde a abstenção pode ser relevante, seria prudente tentar
mobilizar esse público", afirma Rennó. Às vésperas do primeiro
turno em 2014, o índice de brancos, nulos e indecisos girava em torno de
10% nas pesquisas dos principais institutos. A expectativa de este ano
ser ainda maior pode ter explicação na descrença da população com a
política após tantos casos de corrupção e numa campanha que tem mais
polêmicas do que propostas sendo apresentadas. "A radicalização
dos discursos ajuda nessa rejeição do eleitor aos candidatos. Há um
descrédito com a política por conta da corrupção que está quase todos os
dias nos jornais. O eleitor não acredita no sistema político", analisa
Sérgio Praça, professor e cientista político do Centro de Pesquisa e
Documentação de História Contemporânea da FGV. Os indecisos hoje
poderiam colocar até a quinta colocada nas pesquisas, Marina Silva, no
segundo turno. Sobre a possibilidade de uma reviravolta na reta final,
como em 2014 quando a própria Marina Silva foi ultrapassada por Aécio
Neves poucos dias antes do primeiro turno, de acordo com as pesquisas,
Praça afirma ser "improvável, mas não impossível". Rennó também
acredita em uma volatilidade do eleitor, que para ele se concentra
justamente nos indecisos. Candidatos que lideram as pesquisas, Jair
Bolsonaro e Fernando Haddad, têm eleitores mais fiéis, de acordo com as
pesquisas. Por isso, o professor da UnB aposta que o foco da campanha
deve ser nos indecisos nessa reta final. "Há bastante
volatilidade eleitoral no Brasil, mas ela é principalmente de
convencimento de indecisos do que de conversão de eleitores entre
candidatos. Assim, apostar em 'roubar' eleitores é uma aposta de alto
risco", diz Rennó. No Ibope, o mês de setembro começou com 21% de
brancos e nulos, além de 7% de indecisos. Na pesquisa divulgada no dia
26, os brancos e nulos foram a 11%, sem alteração nos indecisos. A
diminuição de brancos e nulos ocorreu na mesma época da subida de
Fernando Haddad nas pesquisas, que se afastou do terceiro colocado, Ciro
Gomes. Rennó comenta que esse público estava aguardando uma definição
do PT. "Haddad cresce pela transferência de votos de Lula. Esses
indecisos o eram porque não sabiam quem era o candidato de Lula. Quando
souberam, migraram. Era um indeciso apenas na ausência de Lula", afirma
Rennó. A campanha mais curta, reduzida a 45 dias, não pode ser
considerada um fator que contribui para o alto índice de indecisos, de
acordo com o professor Sérgio Praça. Para ele, o tom da campanha seria o
mesmo. "Não acredito que uma campanha maior mudaria algo na
campanha à Presidência da República. Mesmo que tivéssemos 45 dias a
mais, não vejo candidatos trazendo algo novo. Talvez o tempo curto tenha
prejudicado apenas candidatos ao Legislativo", diz Praça.
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