Mesmo para as mulheres que sonham em ser mãe, a gravidez não é um
período fácil. E, para algumas delas, esse sonho pode ser interrompido
abruptamente: o aborto espontâneo nos três primeiros meses atinge de 15%
a 20% das gestações. O desafio se torna ainda maior quando o quadro
acontece até três vezes seguidas, gerando o que os médicos chamam de
“aborto de repetição”. O aborto espontâneo pontual é uma resposta do organismo a problemas
com o feto. Defeitos genéticos que ocorrem por acaso (conforme o embrião
se divide e cresce), por exemplo, são uma causa comum. Mas, quando os abortos são reincidentes, os médicos logo vão para um
caminho: investigar o corpo da mulher. Os testes geralmente procuram
problemas no sistema imunológico — que pode estar rejeitando o novo
organismo — ou infecções. Um estudo de cientistas do Imperial College de
Londres, porém, aponta para uma outra possibilidade: defeitos no
esperma do pai. “Tradicionalmente, os médicos concentram a atenção nas mulheres
quando procuram as causas do aborto recorrente. A saúde dos homens – e,
mais importante, a saúde de seus espermatozoides – não são analisados”,
disse Channa Jayasena, principal autora do estudo. Para investigar essa hipótese, a equipe testou 50 homens cujas
parceiras sofreram abortos recorrentes — perda de três gestações
consecutivas antes de 20 semanas de gravidez. Os cientistas analisaram
seus espermatozoides e compararam os resultados com os de um grupo
controle, composto por 60 voluntários. Todos eram pacientes do hospital
St. Mary, em Londres. Resultado: os espermatozoides de homens com parceiras que sofreram
abortos sucessivos tinha o dobro de danos no DNA comparado ao grupo
controle. E os cientistas notaram uma possível causa: o esperma do grupo
dos abortos tinha 4 vezes mais uma espécie reativa de oxigênio. Essas
moléculas são formadas naturalmente por células no sêmen para proteger
os espermatozoides de bactérias e infecções. Mas, em concentrações bem
altas, elas podem causar danos significativos aos gametas. Agora, os cientistas estão investigando a causa desse aumento em
alguns homens: “Embora nenhum dos homens do estudo tivesse qualquer
infecção em curso, como a clamídia, que sabemos poder afetar a saúde do
esperma, é possível que haja outras bactérias de infecções anteriores na
próstata, que produz o sêmen. Isso pode levar a níveis permanentemente
altos de espécies reativas de oxigênio”, disse Jayasena. Apesar das perguntas que ficam para próximas pesquisas, o estudo
alerta: para uma boa gestação, o ideal é que ambos os parceiros (e seus
gametas) estejam saudáveis.
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