DNA neandertal pode estar ligado a casos graves de covid-19



Sequência genética que o Homo sapiens herdou há 50 mil anos, e hoje está presente em 4% a 30% das pessoas, pode triplicar o risco de desenvolver forma mais agressiva da doença, aponta estudo.
Os neandertais foram extintos, mas um pedaço deles continuou conosco: 1,5% a 2% do DNA humano veio do Homo neanderthalensis, que se reproduziu com a nossa espécie. Agora, 50 mil anos depois, essa herança pode estar relacionada à covid-19. É a conclusão de cientistas do Instituto Max Planck, na Alemanha, e da Universidade de Karolinska, na Suécia, que analisaram o código genético de 3.199 doentes hospitalizados com o novo coronavírus e identificaram um padrão: as pessoas que possuem um haplótipo (conjunto de variações) em seis genes, todos localizados no cromossomo 3, têm 300% mais chance de desenvolver covid-19 severa.

Essa alteração está presente em 4% dos americanos, 8% dos europeus e 30% da população do sudeste asiático – e veio de um neandertal. Ela foi identificada no Vindija 33.19, conjunto de restos mortais de um H. neanderthalensis que viveu há 50 mil anos na caverna de Vindija, na Croácia. A descoberta pode ajudar a explicar o maior dos mistérios do Sars-CoV-2: por que ele mata determinadas pessoas, mas causa sintomas leves (ou indetectáveis) em outras.

No final de maio, um estudo publicado por cientistas ingleses também havia encontrado uma associação entre características genéticas e suscetibilidade ao novo coronavírus. O trabalho avaliou dados genéticos de 383 mil pessoas (previamente coletados na UK Biobank, uma base que reúne informações de saúde da população), e constatou: os indivíduos que possuem o alelo (versão) e4 do gene APOE correm 129% mais risco de desenvolver quadros graves de covid-19.

Os dois estudos apontam correlação entre determinadas mutações e a severidade da doença, mas não determinam causalidade nem fornecem uma explicação – o mecanismo biológico envolvido, supondo que exista um, ainda é desconhecido. Mas trabalhos anteriores apresentam uma pista: o alelo e4, que 10% a 15% das pessoas têm, parece facilitar a ação de outros vírus, como o HSV-1 (da herpes), o HCV (hepatite tipo C) e o HIV.


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Bruno Garattoni
Super

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