O receio de sofrer represálias por parte de criminosos diminui a participação de moradores nas reuniões dos Conselhos Comunitários de Segurança (Consegs), o medo é o principal motivo para a baixa participação de algumas comunidades.
No Bairro Alto, isso é rotina. “É muito comum as pessoas não participarem das reuniões por acreditarem que algo ruim pode acontecer”, conta o presidente do Conseg, Adilson Tremura. Nos encontros, exceto pela diretoria e membros natos, não há mais de dez pessoas.
Apenas seis presidentes dos 37 conselhos dizem que o funcionamento em seu bairro é adequado. Nos outros, as reuniões são vazias, fruto da falta de comprometimento de moradores e comerciantes, da desinformação da população e da descrença no trabalho da polícia ou do próprio Conseg.
A sensação de medo tem fundamento. Segundo o presidente do Conseg Bom Retiro, Sérgio Komoroski, houve casos de tentativa de incêndio nas residências de pessoas que se manifestaram. “Por causa desse risco, realizamos nossas reuniões em lugares diferentes”, diz. No Capão da Imbuia, é parecido. “As denúncias precisam ser feitas anônima ou particularmente com os policiais”, conta o vice-presidente Mauro José Gabardo.
A criminalidade não afeta apenas os moradores dos bairros, mas também comerciantes e a própria diretoria de alguns Consegs. “Há um pessoal do comércio que foi assaltado duas ou três vezes e não participa por medo”, diz Claudia Oliveira Ribas Neiva, do Mossunguê. Edson Lopes, do Fazendinha, sofreu na pele. “Incendiaram meu carro e, com a ajuda da perícia da polícia, foi possível constatar que o fogo havia sido criminoso”, revela.
O conselho do Bacacheri existe há um ano. Por mais que esteja trabalhando na resolução de problemas, não faz questão de divulgar suas atividades. “Não queremos que nosso trabalho fique muito conhecido porque isso pode prejudicar a nossa segurança”, relata o presidente Celso Kataloski.
A falta de divulgação intencional também acontece no Xaxim. Os membros da mesa diretora do Conseg da região não querem que integrantes da comunidade saibam de suas posições no conselho. “Quando alguém vai se apresentar, não diz qual cargo ocupa, mas que é ‘membro do Conseg’”, explica a presidente Juliana Hemili de Souza.
Por causa da falta de participação, alguns presidentes ficam desanimados com o trabalho. É o caso de Vilmar Soares Constantino, do Boqueirão – o conselho lá funciona há mais de dez anos. “Fico na presidência até o fim do ano e depois desisto. Sinto que estou enxugando gelo.”
“Casos de ameaça são raros”, diz chefe da Guarda
De acordo com o inspetor chefe da Guarda Municipal, Frederico de Carvalho, os relatos de ameaças ou agressões a membros de Conselhos Comunitários de Segurança são raros. “Não conhecemos esse problema. Os conselhos que temos visitado são muito participativos e atuam de maneira tranquila”, afirma. Segundo ele, os agentes estão orientados a passar os procedimentos à comunidade e encorajar a participação da população. “Quem tiver medo pode entrar em contato conosco e atenderemos prontamente”, diz Carvalho.
Para o tenente coronel Heraldo Régis Bório da Silva, coordenador da polícia comunitária da Polícia Militar, o medo de ser identificado não justifica a ausência na discussão dos problemas. Ele também sugere uma alternativa acessível e de curto prazo. “Uma ideia que pode ser facilmente colocada em prática é instalar ‘urnas de denúncia’ em lugares estratégicos dos bairros, como mercados e igrejas, que têm uma grande circulação de pessoas. Depois, os próprios integrantes dos Consegs fazem uma triagem das mensagens e se comunicam com a polícia”, explica.
gazeta do povo
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