O Brasil ainda "não cumpre com os padrões mínimos"
para eliminar o chamado tráfico de pessoas, "mas está fazendo um esforço
significativo" nesse sentido, avalia um relatório do Departamento de
Estado americano divulgado na quarta-feira.
"As autoridades continuam a processar e condenar os traficantes, custear 16 agências de combate ao tráfico e elevar a consciência (sobre o tema) por meio de uma campanha de mídia", destaca o documento.
Além disso, o governo "lançou um plano nacional de combate ao tráfico (que inclui a criação de dez novos órgãos para combate e treinamento de 400 funcionários) e se comprometeu a gastar o equivalente a US$ 2,9 milhões para implementá-lo até 2014".
Por outro lado, diz o Departamento de Estado, "os estatutos (brasileiros) que proíbem o tráfico são muito abrangentes ou muito limitados, dificultando a avaliação completa (das ações) do governo".
O relatório descreve o Brasil como "fonte, destino e trânsito para homens, mulheres e crianças submetidos ao tráfico sexual e trabalho forçado".
As avaliações estão no relatório anual sobre o tráfico de pessoas, publicado anualmente pelo Departamento de Estado americano.
As autoridades americanas dividem os países em três categorias, sendo a primeira a dos que cumprem os padrões mínimos para eliminar o tráfico de pessoas. O Brasil está na categoria 2, uma espécie de lista de países "em observação".
China e Rússia 'rebaixadas'
Neste ano, os EUA optaram por rebaixar o status de China, Rússia e Uzbequistão, que caíram para a terceira categoria. Esses países haviam permanecido anos em observação sob a promessa de realizar esforços para melhorar os seus padrões de combate ao tráfico de pessoas.A nova lista contém 20 nações que podem ser alvo de sanções com base nas regulamentações americanas e tratados internacionais sobre o tema.
"Este relatório não quer distribuir socos. E não é porque os EUA sejam melhores que os outros, ou pensem que têm um direito automático de fazer este julgamento, ou queiram apontar o dedo para os outros", disse durante o lançamento do relatório o secretário de Estado John Kerry, que lembrou que seu país também teve de "superar a escravidão".
Kerry disse que, no ano passado, 46 mil vítimas foram "trazidas à superfície" em todo o mundo, enquanto 27 milhões de pessoas continuam vivendo em regime de trabalho escravo.
Problemas brasileiros
O relatório apontou que as forças móveis do Ministério do Trabalho libertaram mais de 2,5 mil pessoas consideradas em trabalho escravo em 2012.Enquanto a exploração sexual – inclusive infantil – é grave nos estados do Nordeste brasileiro, os relatos de trabalho forçado e escravo no Norte do país estão particularmente ligados à mão de obra em lavouras canavieiras e mineração.
O texto também lembrou a "lista suja" publicada pelo Ministério, em parceria com organizações de direitos humanos, para identificar publicamente cerca de 400 indivíduos e empresas que participam da cadeira do trabalho escravo.
Além disso, o documento elogiou as ações antitráfico organizadas em nível local por Estados e municípios.
Além de recomendações para que o Brasil continue investigando e processando os suspeitos de cometer crimes de tráfico de pessoas, o relatório pede maior destinação de fundos para abrigos e treinamento profissional para vítimas desse crime.
Pablo Uchoa
Da BBC Brasil em Washington
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