– “Amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei”.
O mandamento ou sentença
acima, bastante conhecido e familiar a todos, foi proferido por um dos
homens mais respeitados e cultuados por toda a humanidade em todos os
tempos [para muitos, o filho de Deus encarnado]. Atenção à
palavra–chave: “humanidade”.
Por esse homem, e em nome
desse homem [para alguns, um homem santo], muitos oram, frequentam
igrejas, estudam a Bíblia, realizam cultos e/ou celebram missas,
constroem templos e igrejas (alguns faraônicos ou megalomaníacos).
Porém, muitos desses
“fiéis” – a maioria, arriscaria dizer – apesar de diária ou
semanalmente, irem à igreja, lerem a Bíblia, “estudarem a palavra” e
orarem a Jesus [ou a Deus], ao que tudo indica, não entenderam a
simples, mas essencial e fundamental mensagem contida nessas poucas
palavras:
– “Amai-vos uns aos outros...”
Entretanto, acredito ser
inútil relembrá-las e repeti-las aqui, com o ingênuo intuito e boa
vontade de chamar a atenção das pessoas para o seu real significado e
efetividade. A despeito de estarmos vivendo o período do Natal,
registre-se, uma época em que as pessoas procuram refletir mais sobre a
vida e exercitar mais a compaixão, a generosidade e o amor ao próximo.
– Que papo é esse, Lula Miranda?! Virou um pregador?! E os textos de/sobre política?! – você deve estar se indagando.
Tenho meus motivos. Isso também é política.
Ilustro/esclareço contando a história que segue.
Outro dia, estava eu
sentado, como de hábito tranquila e distraidamente, em um dos últimos
assentos próximos à porta traseira do ônibus, quando percebi uma mulher
transtornada descer fora do ponto resmungando, fula da vida mesmo.
Distraído que sou e, para variar, estava, perguntei então para um jovem
que estava sentado ao meu lado o porquê daquela mulher ter se irritado
daquela maneira e descido do ônibus assim, intempestivamente.
– Por causa daquelas duas
vagabundas que estão ali se agarrando. O senhor não viu não, essa pouca
sem-vergonhice?! – disse-me, indagando o jovem.
Em seguida, na sequência,
ele vomitou uma torrente de impropérios e maldizeres, direcionados às
duas moças, e aos homossexuais em geral, estendendo sua longa lista de
insultos até os políticos [Lula, Dilma e aos petistas em geral], de
sorte que nem vale a pena repetir aqui.
Mas, confesso-lhes,
fiquei pasmo, estarrecido e até amedrontado com a reação do rapaz. Temi
pelo pior – com relação às duas moças.
Assustado e surpreendido
pelo inesperado da situação, virei-me para o outro lado e esperei ele
vomitar toda a sua fúria e discurso insano, torcendo para que logo se
esquecesse do assunto, se acalmasse e que a paz voltasse a reinar dentro
do ônibus. E assim pudéssemos seguir adiante, e em paz.
Repito: temi pelo pior. Cheguei a temer pela integridade física das duas moças.
Todos sabem que
homossexuais são cotidiana e barbaramente espancados, e, muitas vezes,
até mortos em cidades grandes, e ditas civilizadas, como São Paulo.
Até que, depois de alguns
minutos de sua preleção raivosa e insana, o jovem rapaz, como que do
nada, acalmou sua fúria insana e parou de dirigir impropérios para todo o
mundo e, também, para as duas moças – duas adolescentes que, creio,
estavam a caminho do colégio. E que, longe de estarem se agarrando,
estavam apenas de mãos dadas, e uma delas estava com a cabeça encostada
no ombro da outra – como fazem os casais enamorados.
Trago esse episódio para o
conhecimento de vocês, pois, sinceramente, não é
compreensível/justificável que algumas pessoas nutram tanta
discriminação e ódio para com os homossexuais.
É até compreensível que
ainda sintamos, os heterossexuais, algum desconforto ou estranheza
quando nos deparamos com duas pessoas do mesmo sexo trocando afagos e
afetos.
É até compreensível que,
além de sentirmos esse natural “desconforto”, nos preocupemos com o que
os nossos filhos pensarão ou como entenderão essa nova realidade para
nós ainda tão “desconfortável” e/ou não assimilada.
É até compreensível, mas ...
Precisamos nos educar e
nos habituar a esse tipo de situação e realidade. Pois os nossos filhos e
netos já serão forçosamente educados diante dessa nova realidade – que é
inexorável.
Esse mundo de sexualidade “binária”, digamos assim, ficou para trás – queiram ou não os conservadores.
Pois é plenamente normal –
até louvável e/ou admirável – dois homens ou duas mulheres, dois
indivíduos do mesmo sexo, se amarem. Namorarem. Como todo mundo.
São duas pessoas que
estão expressando o amor e carinho que sentem um pelo outro. Apenas
isso. Assim como fazem os heterossexuais, cotidianamente, à luz do dia.
Pense bem, reflita comigo: como pode alguém odiar uma legítima expressão do amor?
– “Amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei”.
Será que nós,
heterossexuais, achamos/queremos que os homossexuais amem em segredo? Na
calada da noite? Nas sombras dos bares e/ou saunas feitas para este
fim?
Será que nós, os
heterossexuais, desejamos que aqueles que amam pessoas do mesmo sexo
continuem, como antigamente, escondidos dentro de “armários”, camuflados
pela hipocrisia?
Não, meus prezados. Esse
tempo já passou, está passando. Está fadado a ocupar um triste e
deplorável lugar na história da humanidade.
Assim como já passou o tempo em que homens brancos escravizavam homens negros.
Assim como já passou o tempo em que brancos comiam em lugares diferentes dos negros.
Tempos em que negros só entravam nos prédios e/ou casas pela porta da serventia.
Tempos em que os negros não podiam estudar nas melhores escolas ou ter bons empregos...
Coisas que eram tidas como “naturais” em tempos de antanho, mas com as quais, hoje, nos envergonhamos profundamente.
Repito: das quais nos envergonhamos. Profundamente.
Não é mesmo?
[N.A. Desejo a todos os um Feliz Natal e um excelente Ano Novo. Fortuna e saúde!]
Lula Miranda
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