Sou daqueles que desprezam as chances eleitorais do candidato do
nazismo nativo, o capitão da reserva do Exército Jair Bolsonaro. Mas é
forçoso reconhecer que sua aventura presidencial acaba provocando um
efeito colateral positivo: quando os votos das urnas eletrônicas forem
computados, na noite de 7 de outubro, saberemos exatamente quantos
imbecis compõem o eleitorado brasileiro. Disse o presidente do PT-RJ, Washington Quaquá, em recente
entrevista, que o teto de Bolsonaro não passa de 15%, pois, na sua
visão, o país não dispõe de um número de imbecis acima desse patamar.
Concordo e vou além: será difícil para ele até se manter nessa posição
ante o chumbo grosso que se avizinha. Nem por isso minimizo os efeitos deletérios para a nossa sociedade da
onda fascista que varre o país, movida a ódio, intolerância,
analfabetismo político e doses cavalares de burrice. E o grande
responsável por essa espiral totalitária e com apelos ao banditismo, o
oligopólio da mídia liderado pela Globo, finge que não é com ele. O assassinato da vereadora Marielle, os ataques e os tiros contra a
caravana de Lula e, na sequência, sua prisão só foram possíveis dentro
dessa moldura antidemocrática e violenta. Contudo, não vejo na figura patética e caricata do deputado Bolsonaro
os requisitos mínimos nem mesmo para representar na campanha eleitoral
esta espécie de Brasil das trevas. Sou capaz de apostar que parte
significativa dos eleitores que manifesta a intenção de votar no
candidato da extrema-direita o faz seduzida pelo seu discurso de
“prender e arrebentar’, que viceja entre as pessoas de baixo nível de
informação, especialmente em períodos de crise aguda na área de
segurança pública. Só que campanha eleitoral é outra história. E nada como a luz do sol
de uma campanha para trazer à tona todo o despreparo de Bolsonaro, sua
proverbial falta de educação e grosseria, com manifestações explícitas e
doentias de racismo (crime previsto em lei), sexismo e homofobia.
Duvido que o pragmatismo eleitoral seja capaz de conter sua verborragia
desrespeitosa e agressiva quando se refere às mulheres, aos
homossexuais, aos negros, indígenas e quilombolas. Faz parte do DNA do
candidato, não tem jeito. Se não bastasse, não há boia de salvação lançada por marqueteiros e
assessores econômicos e políticos capaz de salvá-lo do naufrágio quando,
diante dos holofotes amplificados da guerra que é uma disputa
presidencial, for obrigado a tratar de temas sobre os quais é
profundamente ignorante. O que dirá Bolsonaro ao distinto público sobre
políticas de desenvolvimento econômico e social, geração de emprego e
renda, relações internacionais, petróleo, geração e distribuição de
energia, biocombustíveis, ciência e tecnologia, saneamento,
infraestrutura e por aí vai? A tendência é que em 15 dias sua candidatura vire pó, afinal, por
mais que o eleitorado brasileiro não prime por níveis elevados de
politização, eleição presidencial tem rito e reveste-se de uma certa
formalidade. Na pior das hipóteses, o candidato deve exibir um grau de civilidade e
equilíbrio que Bolsonaro está a anos luz de possuir. Tem que ser
articulado o suficiente para debater assuntos estratégicos para o país e
inerentes ao cargo de presidente da República, o que não está sequer ao
seu alcance. Também é indispensável alguma fluência e conteúdo na
exposição de suas ideias, bem como frieza quando for confrontado com
posições antagônicas, o oposto de quem só sabe discutir aos berros. Vale dizer que a vida pregressa dos candidatos emerge durante a
campanha. É inevitável. Seus adversários não hesitarão em colocar no ar
vídeos nos quais ele defende a tortura, ameaça colega parlamentar de
estupro, agride verbalmente jornalistas, faz apologia da ditadura ou
ofende negros, gays e lésbicas. Isso tudo se ele chegar inteiro ao começo da campanha. É de se
prever, de agora até agosto, mês em que começa oficialmente a campanha, o
uso de artilharia pesada por parte da Globo e irmãs siamesas da mídia,
com o objetivo de destruí-lo, abrindo caminho para o verdadeiro
candidato do marcado financeiro e das grandes corporações empresariais,
que é o ex-governador tucano Geraldo Alckmin. Quem viver verá.
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