O 3 de maio é o Dia da Liberdade de Imprensa. Que bom que há este
dia. Assim, pelo menos uma vez ao ano, celebra-se solenemente esse
direito humano. Mas a liberdade de imprensa é um tema perfeito para
declarações da boca para fora. Nos demais 364 dias, o mundo se ocupa bem
menos do tema. A seguir, apenas alguns exemplos. Políticos
democráticos da Europa se atropelam na tentativa de cortejar a China. O
fato de a liberdade de imprensa não existir nesse país e de as ofertas
da Deutsche Welle e de outras emissoras internacionais serem totalmente
bloqueadas merece pouco mais do que uma nota de pé de página. Também
os representantes do setor econômico pensam, quando o assunto é China,
mais em bons negócios do que em direitos humanos. Desse modo,
entregam-se à arbitrariedade e sede de poder de Pequim. Pois ninguém vai
protestar no país quando investidores são tutelados. Na mídia chinesa
não se vão encontrar críticas a respeito. Um número espantosamente alto de políticos alemães e de outros países
europeus apela para que se compreenda corretamente o presidente russo,
Vladimir Putin, para que finalmente se levem a sério seus temores
perante a Otan e a União Europeia. Os medos dos jornalistas na Rússia,
em contrapartida, só atrapalham e são ignorados: seu medo de
intimidação, de lesões corporais e até mesmo de assassinato. Ainda bem
que o novo ministro alemão do Interior, Heiko Maas, tem uma posição
diferente. Também o Irã bloqueia as ofertas da DW e de outras
emissoras internacionais e intimida sistematicamente seus colaboradores.
Praticamente ninguém fala mais dos 23 jornalistas aprisionados nos
cárceres de tortura das Guarda Revolucionária. E, no entanto, há
políticos que sonham com uma aproximação – com um regime que quer
aniquilar Israel, desestabilizar o Oriente Médio inteiro e exporta
terrorismo. O príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin
Salman, é louvado por deixar as mulheres dirigirem automóveis e por
inaugurar cinemas. Ao mesmo tempo, porém, o blogueiro Raif Badawi
continua confinado numa prisão saudita só por ter praticado o direito
fundamental à liberdade de opinião. Autocratas africanos exigem –
e obtêm – mais ajuda humanitária, mas silenciam e sufocam os
jornalistas jovens e dinâmicos que tentam praticar seu ofício de maneira
honesta, sobretudo nas emissoras privadas. Em Bangladesh e no
Paquistão, blogueiros arriscam a própria vida ao noticiar sobre o
crescente fundamentalismo islâmico em seu país. Apesar dos esforços de
diversos diplomatas, apoio do exterior é, antes, artigo raro. Em
2018 o México é país-parceiro da Feira de Hannover. No entanto em
nenhuma outra nação o jornalismo é tão perigoso como lá, pois o governo
não consegue controlar os cartéis do narcotráfico. Em 2017 foram mortos
no México 11 jornalistas – só na Síria o balanço é mais trágico. Seria o
caso de os Estados ocidentais assumirem a própria responsabilidade, uma
vez que a maioria dos consumidores vive neles. A lista poderia
se estender indefinidamente. Logo chegaria também a vez da Turquia,
parceira da Otan, e dos membros da União Europeia Polônia e Hungria. É uma triste lista. Ela exige mais do que declarações da boca para fora em datas comemorativas. Deveríamos
julgar nossos governos e nossos políticos também por aquilo que fazem
efetivamente para protestar contra os escandalosos atentados à liberdade
de imprensa. Eles mostram aos ditadores, de forma clara e
inequívoca, quais são os nossos valores? Estão prontos a renunciar a
negócios, quando esses valores são violados de forma gritante? Eles
subordinam a disposição de conceder ajuda para o desenvolvimento à
situação dos direitos humanos e da liberdade de imprensa nos países
receptores? Por todo o mundo, a democracia está ameaçada por
ditadores, autocratas e populistas. Ela só sobreviverá se os democratas
batalharem em prol dela com determinação. Hoje, 3 de maio, a
Deutsche Welle faz aniversário: há 65 anos informamos gente do mundo
inteiro, de forma livre e independente. Vamos continuar nos empenhando
pela liberdade de imprensa. Vamos mostrar as coisas como elas são. Esse é
o nosso compromisso.
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