O Ministério Público do Estado de São Paulo apresentou denúncia contra o
candidato a vice-presidente pelo PT, Fernando Haddad, por corrupção,
lavagem de dinheiro e associação criminosa pelo recebimento de 2,6
milhões de reais de propina da empreiteira UTC Engenharia para pagamento
de dívida contraída durante a campanha eleitoral à prefeitura da
capital paulista em 2012, informou o MPSP nesta terça-feira. Haddad, provável substituto do ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva na cabeça da chapa presidencial do PT após o ex-presidente ter
sido barrado da disputa na semana passada, já havia sido acusado pelo MP
de improbidade administrativa e enriquecimento ilícito, além de ser
alvo de uma denúncia feita à Justiça Eleitoral com base no mesmo caso. Segundo
o MP, o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto pediu ao então presidente
da UTC, Ricardo Pessoa, que fizesse o pagamento da dívida da campanha
de Haddad com gráficas no valor de 2,6 milhões de reais, em troca de um
eventual favorecimento à empreiteira por parte da administração
municipal. Haddad rejeita a acusação e alega que Pessoa, cuja
delação ajuda a sustentar a ação do Ministério Público, está mentindo.
Segundo ele, há um componente eleitoral por trás das ações do MP a
poucas semanas da eleição presidencial de outubro. “Surpreende
que no período eleitoral, uma narrativa do empresário Ricardo Pessoa, da
UTC, sem qualquer prova, fundamente três ações propostas pelo
Ministério Público de São Paulo contra o ex-prefeito e candidato a
vice-presidente da República, Fernando Haddad. É notório que o
empresário já teve sua delação rejeitada em quase uma dezena de casos e
que ele conta suas histórias de acordo com seus interesses”, disse a
assessoria de imprensa do candidato em nota nesta terça-feira. O
promotor de Justiça à frente da denúncia, Marcelo Mendroni, afirmou que o
inquérito da Polícia Federal não confirma se houve favorecimento para a
UTC, mas que isso não é necessário, uma vez que apenas a perspectiva de
uma contrapartida já consuma o crime de corrupção. Embora o
inquérito não apresente prova que demonstre um pedido explícito de
Fernando Haddad de dinheiro para pagamento da dívida, o Ministério
Público entende que isso é óbvio. “Não chamaria isso de suposição, diria que é uma matemática jurídica”, explicou o promotor a jornalistas em São Paulo. Vaccari
e Pessoa, que já foram condenados em ações de corrupção no âmbito da
operação Lava Jato, também foram denunciados pelo MP paulista, assim
como o doleiro Alberto Youssef e o ex-deputado estadual pelo PT
Francisco Carlos de Souza. Na semana passada, quando foi
apresentada a denúncia por improbidade administrativa, o ex-prefeito
disse que contrariou interesses de Pessoa. “No meu caso ele tinha
razão para mentir”, disse Haddad. “Eu cancelei com 44 dias (de mandato)
uma obra milionária da UTC e Odebrecht... Porque eu cancelei? Porque
meu secretário me disse que a obra estava superfaturada.” O candidato a vice-presidente também questionou o fato de ser alvo de reiteradas denúncias neste momento. “A
gente fica pensando o que está por trás disso”, disse. “Durante 24 anos
o PSDB atua em São Paulo, tem escândalo em todo canto, não tem nada ali
que pare em pé e não há nada, nenhum procedimento.” O promotor
disse que o oferecimento da denúncia em período eleitoral foi
coincidência, uma vez que estão sendo seguidos os prazos determinados. A
Polícia Federal enviou o inquérito ao MP em julho de 2018, embora o
Supremo Tribunal Federal tenha mandado o caso para São Paulo em 2015,
disse. Haddad provavelmente vai substituir Lula na cabeça de
chapa do PT depois que o ex-presidente foi barrado da corrida ao Palácio
do Planalto pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com base na Lei da
Ficha Limpa. O ex-presidente, que está preso em Curitiba desde
abril cumprindo pena por condenação em segunda instância por corrupção e
lavagem de dinheiro no caso do tríplex do Guarujá (SP), lidera as
pesquisas de intenção de voto. Na ação de improbidade
administrativa, o MP pediu suspensão dos direitos políticos de Haddad de
oito a 10 anos, entre outras punições. Em nota, a UTC
e seu acionista informam que “sempre colaboraram, colaboram e
continuarão a colaborar com as autoridades responsáveis pelas
investigações, processos administrativos e judiciais relacionados.
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Laís Martins
São Paulo
Pedro Fonseca
Rio de Janeiro
Reuters
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