ONGs e instituições de defesa dos direitos da imprensa relataram
ameaças e atos de violência contra jornalistas que cobrem a campanha
eleitoral no Brasil e pediram que os candidatos à presidência denunciem
"de forma contundente" as intimidações aos profissionais de diversos
órgãos de mídia no país. Um comunicado da Human Rights Watch
(HRW) divulgado nesta quinta-feira (25/10) relata vários casos de
ameaças e intimidações, como as sofridas pela repórter Patrícia Campos
Mello do jornal Folha de São Paulo, após noticiar uma campanha de empresários favoráveis ao candidato Jair Bolsonaro (PSL) para enviar notícias falsas através do aplicativo de mensagens Whatsapp. A
jornalista relatou ter recebido uma enxurrada de ameaças online e
outras duas por telefone, e ainda teve sua conta no aplicativo de
mensagens hackeada. Segundo a Folha, o diretor-executivo
do instituto de pesquisas Datafolha, Mauro Paulino, também foi ameaçado
através de um aplicativo de mensagens e em sua própria casa. O jornal
disse que partidários de Bolsonaro realizaram um "ataque sistemático" a
um de seus números no Whatsapp, alvo de 220 mil mensagens em apenas
quatro dias, impedindo o acompanhamento das mensagens enviadas pelos
leitores. "As ameaças contra Patrícia Campos Mello e outros
jornalistas representam uma escalada alarmante da retórica contra a
imprensa neste ciclo eleitoral contencioso no Brasil", afirma Natalie
Southwick, coordenadora do programa do Comitê para a Proteção dos
Jornalistas (CPJ) para a América Central e do Sul. "Os
jornalistas que cobrem a eleição presidencial no Brasil devem poder
trabalhar livremente e com segurança enquanto fazem reportagens sobre
questões de interesse público. Pedimos aos candidatos de todos os
partidos que respeitem a liberdade de imprensa, se abstenham de fazer
declarações inflamatórias contra a mídia, e exortem seus partidários a
parar de assediar e ameaçar jornalistas", complementa Southwick. "Ataques
por apoiadores de candidatos presidenciais contra a imprensa são
inaceitáveis e indignos de qualquer partido político que almeje governar
o país", afirma Emmanuel Colombié, diretor regional para a América
Latina da ONG Repórteres sem Fronteiras (RSF). "O discurso de
ódio e as campanhas de desinformação exacerbam as tensões na sociedade
já altamente polarizada no Brasil", observa. A RSF, diz o texto, "apoia
todos os jornalistas brasileiros, cujo trabalho durante esse período
turbulento é essencial”. A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji)
documentou 141 casos de violência e ameaças contra jornalistas durante a
campanha eleitoral, na maioria dos casos, atribuídos a apoiadores de
Bolsonaro. Segundo a ONG Artigo 29, os ataques contra repórteres
mulheres incluem com frequência violências de gênero, como assédio
sexual online e ameaças de violência sexual. Daniel Bramatti,
presidente da Abraji, diz que para "demonstrar comprometimento com a
preservação da democracia", os candidatos devem condenar as ameaças e
ataques contra jornalistas, além de se absterem de "qualquer discurso
que incite a violência”. A nota da HRW lembra episódios como os
tiros disparados contra um ônibus que transportava 28 jornalistas que
cobriam um evento do Partido dos Trabalhadores (PT), assim como
intimidações e agressões de militantes petistas a repórteres. A
ONG menciona também o ataque sofrido por Bolsonaro em evento de campanha
e o assassinato do mestre de capoeira Romualdo Rosário da Costa,
conhecido como Moa do Katendê, que foi morto após declarar num bar que
havia votado no candidato petista Fernando Haddad. "O assédio e
intimidação de jornalistas ocorre em um contexto de polarização e
aumento da violência política contra pessoas LGBT, mulheres, negros e
aqueles que expressam visões políticas diferentes das dos agressores",
afirma o comunicado. "Qualquer um pode discordar de uma
reportagem, e deve ter o direito de fazê-lo publicamente, mas ameaçar o
jornalista e incitar outros a fazer o mesmo não só põe em perigo a
segurança pessoal dos jornalistas, mas prejudica a liberdade de
expressão e a democracia", diz Maria Laura Canineu, diretora da Human
Rights Watch no Brasil. "Os candidatos à presidência devem
defender o direito dos jornalistas de informar o público e o direito do
público de ser informado", ressalta.
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