Caros Brasileiros,
Será que o presidente Jair Bolsonaro ainda
não percebeu que a campanha eleitoral já acabou? Que ele deveria estar
governando para os mais de 200 milhões de brasileiros, e não continuar
satisfazendo a seus eleitores ou ideólogos como Olavo de Carvalho? Na
visita a Israel, mais uma vez, ele deu provas de que parece não estar
ciente disso.
É trágico, é triste, é devastador. Mesmo depois da
visita ao memorial Yad Vashem, em Jerusalém, um museu público em memória
às vítimas do Holocausto, Bolsonaro parece não ter conseguido refletir
sobre as consequências catastróficas do nazismo. Pelo contrário: usou o
genocídio contra judeus como mais uma oportunidade de combater "os
esquerdistas" e o "socialismo".
Confesso
que eu, como alemã, estou atônita. Sinto vergonha alheia ao ouvir da
boca de um presidente de um grande país como o Brasil que ele não teria
dúvidas "de que o nazismo
foi um movimento de esquerda". A falsificação da história depois da
visita a um museu em memória às vítimas do Holocausto cruzou todos os
limites.
O combate permanente ao "socialismo, comunismo e aos esquerdistas" parece ser uma obsessão política
do presidente Bolsonaro e do chanceler Ernesto Araújo, que o acompanhou
na visita oficial a Israel. Como na campanha eleitoral, Bolsonaro
continua espalhando fake news.
Agora, o presidente Bolsonaro
escolheu a Terra Santa para disseminar fake news. O incidente revela
muito sobre a personagem e o estilo político dele. A tentativa de
ressignificar o nazismo como um movimento de esquerda mostra que ele se
inspira nos métodos de agitação de regimes totalitários: vender mentiras
como verdade e criar um bode expiatório para todos os problemas de um
país. O que eram os judeus para os nazistas alemães, são os
"esquerdistas", socialistas e comunistas para o presidente brasileiro.
No
mundo ideologicamente envenenado de Bolsonaro, a história parece ser
uma massa de manobra, como também mostra a forma de tratar o golpe
militar de 1964. A deposição do presidente democraticamente eleito João
Goulart no dia 31 de março de 1964, para Bolsonaro, não foi um golpe
militar. Na leitura dele, as Forças Armadas salvaram o Brasil de uma
possível ditadura comunista.
A ordem de celebração do golpe
militar pelo presidente Bolsonaro evidenciou a alienação com a realidade
e a ausência completa de empatia e tato político. O mal-estar aumentou
mais ainda com o fato de que o presidente se ausentou na "comemoração"
do 55º aniversário da ditadura.
Essa toada de destruição e
perturbação permanente parece ser uma marca registrada do presidente
brasileiro. A consequência é que, interna e externamente, os problemas
do Brasil vão se agravando. No governo, aumentem os atritos entre militares e seguidores do autoproclamado filósofo Olavo de Carvalho. A área de educação está parada, igualmente às negociações sobre a reforma da Previdência no Congresso.
Na
política externa, o cenário se repete. O saldo da viagem oficial para
Israel é devastador. Além de reanimar a polêmica sobre o nazismo com uma
mentira histórica, o presidente Bolsonaro está contribuindo para
crescentes tensões diplomáticas com os países árabes. O cortejo ao
primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, desagradou não somente
aos países árabes, mas também à indústria agropecuária brasileira.
Pois
o Brasil é um dos maiores exportadores de carne halal do mundo. O
comércio com o Oriente Médio é de grande relevância, ao contrário dos
negócios bilaterais com Israel. O Brasil registrou um superávit de 7,1
bilhões de dólares em transações com os 22 países do bloco árabe,
enquanto computou, por exemplo, um déficit de 419 milhões de dólares em
negociações com Israel.
O presidente Bolsonaro está revertendo a
política tradicional de neutralidade do Brasil. Um país que até agora
era símbolo de convivência pacífica na comunidade internacional, e que
não tinha inimigos, de repente resolveu partir para a ofensa e
polarização.
Como no Brasil, em Israel também, o presidente
Bolsonaro foi procurar aplausos nos cantos políticos mais avessos ao
diálogo. Faltam poucos dias para se completarem os 100 primeiros dias do
governo Bolsonaro. Uma lição já está bem clara: piorar, sempre pode.
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Astrid Prange de Oliveira
DW
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