“Esse mundo é pequeno demais para nós dois”: conheça os duelos mais famosos da história – Parte 2



Nos séculos XI e XII, alguns sistemas jurídicos utilizavam o duelo para determinar quem era culpado ou inocente: acusador e acusado se enfrentavam e o vencedor, em sinal de “favorecimento de Deus”, provava sua inocência.

O primeiro código de duelo – o Code duello – remonta ao Renascimento italiano, embora se reconheça algumas primárias sistematizações, como a antiga lei germânica.
Em 1777, um comitê da Irlanda elaborou o conjunto de regras mais famoso, que logo se popularizou na Europa e, com a emigração irlandesa para a América, também influenciou os Estados Unidos.

A origem desses códigos está ligada à Idade Média, com a “honra cavalheiresca”. Duelo era coisa só para a “honrada nobreza”. Quando os duelos começaram a se popularizar em todas as classes sociais, surgiram leis restritivas à prática. Hoje, alguns historiadores também especulam que as grandes guerras do século XIX e XX, de certa forma, tiraram o glamour dos combates, diminuindo a “cultura do duelo”.

 
Confira alguns dos duelos que entraram para a história:
1864. Mark Twain versus James Laird
O escritor irlandês Mark Twain estava de passagem pelo estado de Nevada e acabou se envolvendo em uma discussão, pelos jornais, com o editor do Daily Union, James Laird. Twain desafiou Laird para um duelo, só que tinha um probleminha: o escritor não tinha ideia de como usar uma pistola. Um amigo o levou para treinar tiros, porém Twain não acertava um alvo a um palmo do seu nariz. O paciente amigo tomou-lhe a pistola e acertou um passarinho, mostrando como é que se fazia. Um conhecido do editor do Daily Union passava por ali e viu o pássaro morto – a 30 metros. A notícia da boa mira de Twain, claro, chegou aos ouvidos de Laird, que desistiu do duelo. Pelo menos, essa é a história que o escritor conta.
1865. Antero de Quental versus Ramalho Ortigão
Esse foi um acalorado duelo nas letras lusitanas, dando origem ao episódio conhecido como “Questão Coimbrã”. O poeta António Feliciano de Castilho publicou um folheto chamado “Bom-senso e Bom-gosto”, acusando Antero de Quental e outros poetas  de obscuridade e exibicionismo. Quental não deixou barato: em outro folheto, ridicularizou a poesia de Castilho, classificando-a como fútil e insignificante. Seguiram outros quebra-paus via folhetos até que o polêmico Ramalho Ortigão – autor, junto com Eça de Queirós, de “O Mistério da Estrada de Sintra” – escreveu o seu, puxando a orelha desses novos poetas. Os ânimos se exaltaram. Quental e Ortigão se enfrentaram em um duelo com espadas. Quental levou a melhor: derrotou o oponente, ferindo-o no pulso. Anos depois, tudo se resolveu e os dois se tornaram bons amigos.
1879. Édouard Manet versus Louis Edmond Duranty
Louis Edmond Duranty foi um crítico de arte que, certo dia, publicou uma crítica sobre duas pinturas de Édouard Manet. O célebre pintor impressionista não gostou nada e, quando o encontrou num café de Paris, esbofeteou o crítico, desafiando-o para um duelo de espadas, na floresta Saint-Germain. Acompanhado pelo escritor Émile Zola, Manet feriu Duranty no peito. Os presentes declararam que a honra havia sido recuperada e que, portanto, não havia necessidade de continuar o duelo.
1889. Olavo Bilac versus João Carlos Pardal Mallet. Bônus: Bilac versus Raul Pompéia
Olavo Bilac pediu as contas do jornal “A Rua”, o que não agradou em nada seu editor, João Carlos Pardal Mallet, que o desafiou para um duelo de espadas. A notícia correu e a polícia ficou de olho nos dois, o que fez com que o duelo fosse adiado algumas vezes. Quando conseguiram, enfim, se enfrentar, Bilac golpeou Mallet na barriga, sem gravidade, no entanto, mas botando um ponto final na disputa. Mas as tretas do poeta parnasiano não acabaram por aí. Depois de três anos, usando um pseudônimo que todos sabiam ser seu, escreveu sobre o escritor Raul Pompéia: “ele sofreu amolecimento cerebral de tanto masturbar-se contando as tábuas do teto”. Pompéia respondeu a altura: “Bilac é um tipo alheado do respeito humano, marcado pelo estigma do incesto”. O clima esquentou entre os dois e logo marcaram um duelo, que nunca chegou a acontecer.
1909. Euclides da Cunha versus Dilermando de Assis
A morte do célebre autor de “Os Sertões” é, frequentemente, atribuída a um duelo. Conta-se que, depois de uma noite sem pregar o olho e fumando sem parar, Euclides da Cunha foi até a casa de Dilermando de Assis, um jovem cadete do Exército que maninha um romance com sua esposa. Armado, disse que estava disposto a “matar ou morrer”. Acabou morrendo. A história até hoje gera controvérsias: uns pregam que ele foi assassinado covardemente no jardim; outros, que Dilermando agiu em legítima defesa. Anos mais tarde, o filho de Euclides quis vingá-lo e também foi morto por Dilermando. Nos dois processos, o militar foi absolvido.
1909. Nikolay Gumilyov versus Maksimilian Voloshin
Os poetas russos Nikolay Gumilyov (1886-1921) e Maksimilian Voloshin (1877-1932) duelaram por uma mulher… Imaginária! Em 1909, uma revista publicou poemas de uma misteriosa baronesa, chamada Cherubina de Gabriak. Gumilyov se apaixonou pela baronesa e os dois chegaram até a trocar correspondências amorosas. Mas surgiu os rumores que a tal Cherubina de Gabriak era, na verdade, Voloshin. O apaixonado Gumilyov ficou furioso por ter sido feito de trouxa – e, claro, por ter trocado juras de amor eterno com outro homem – e desafiou Voloshin para um duelo. Detalhe: no mesmo local onde Pushkin enfrentou d’Anthès. O autor do “trote” não estava disposto a matar – muito menos a morrer. Inventou que perdeu na lama uma de suas galochas e, depois de horas procurando, os dois concordaram que era melhor a trégua e deixar tudo isso para lá.

“Esse mundo é pequeno demais para nós dois”: conheça os duelos mais famosos da história – Parte 1


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Roney Rodrigues
super

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