E se manchas de petróleo nas praias do Nordeste fossem um aviso dos deuses?



As misteriosas manchas escuras que estão sujando as belas praias do Nordeste do Brasil, cuja origem ainda é desconhecida, podem ser mais do que resíduos de petróleo lançados ao mar. Poderiam ser também um aviso dos deuses neste momento em que o Governo brasileiro tem uma política desastrosa de defesa do meio ambiente.
Não sei se existem deuses e demônios, mas a linguagem se alimenta de símbolos. E essas manchas pretas também poderiam ser um alerta da decadência política, social e humana que o país está enfrentando.
Um território todo ele rico em reservas de todo tipo e pobre em líderes que poderiam transformá-lo em fonte de riqueza para acabar com uma pobreza que asfixia todo o país e especialmente o Nordeste, se excetuarmos a pequena dinastia do dinheiro fácil e dos privilégios de seus governantes, às vezes únicos no mundo das democracias ocidentais.
Antes que as misteriosas manchas de petróleo infestassem cada vez mais as praias nordestinas, o governo Bolsonaro, com sua política de exclusão, seus escarceis autoritários e racistas, já tinha sujado a imagem do país no exterior. O Brasil acabou provocando vergonha no mundo livre, que pergunta assombrado o que está acontecendo com um país que já foi um sonho feliz para tantos estrangeiros. Hoje são os brasileiros que gostariam de deixar um país do qual um dia se disse que Deus havia nascido nele.
O Nordeste do Brasil, com a face cristalina de seus mares e rios, cuja beleza e doçura do clima são proverbiais no mundo, não está sofrendo apenas um desastre ambiental. É também uma catástrofe para sua já frágil economia, para seus milhares de pescadores cujo peixe, única fonte de subsistência, ninguém quer comprar por medo de que possa estar contaminado. Pode ser uma catástrofe para o turismo, um dos mais prósperos do país.
O Nordeste do Brasil é acusado injustamente de ser, com sua indolência, a causa de seu atraso econômico. Ao contrário, como afirmam os especialistas em economia, está demonstrando ser uma das regiões com maior desejo de empreender e se libertar de seu atraso atávico, e não como resultado do saque da política atrasada e corrupta de seus caciques.
O Nordeste está de luto e os governantes calam e olham para outro lado. Que eu saiba, o presidente da República, que já ofendeu os nordestinos com sua linguagem racista, não fez o gesto de ir ao local dessa nova catástrofe ambiental para consolar os trabalhadores que a estão sofrendo.
Nem sabemos ainda de onde vêm essas guirlandas negras misteriosas e ameaçadoras. Afinal, isso afeta o território mais pobre do país que carrega o estigma injusto de ser o culpado de sua pobreza. Se isso tivesse acontecido no Brasil rico, os políticos já estariam correndo para lá para derramar lágrimas de crocodilo.
O Brasil e seu exército de evangélicos querem levantar um grande museu da Bíblia na capital do país. O que se precisa neste momento é um profeta como os do Antigo Testamento, que explicasse que essas manchas de óleo, como feridas negras em nosso rosto, podem conter um aviso dos deuses. Como o foram as terríveis pragas do Egito com as quais Deus puniu o faraó para que deixasse Moisés tirar seu povo da escravidão para levá-lo à liberdade.
Hoje existe um poder no Brasil preocupado principalmente com o crescimento da minoria rica e privilegiada do país. Esquecem que na pirâmide que o representa, a grande base é composta por milhões de trabalhadores para os quais as novas leis e projetos que o Governo está aprovando os empurra ainda mais para um estado de escravidão disfarçado de liberdade, enquanto reduz direitos daqueles que mais precisariam vê-los ampliados.
Os deuses, com a praga negra que aflige os nordestinos, que toda vez que os visitei me surpreenderam e me emocionaram com a delicadeza elegante e alegre de seu trato, poderiam estar avisando que ou os faraós que os governam se esforçam para devolver as liberdades das quais estão sendo despojados e os preconceitos com os quais estão sendo ofendidos, ou novas pragas piores poderiam continuar atormentando todo o país.

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Juan Arias
El País

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