PANDEMIA CORONAVÍRUS - Máscaras N95 podem ser descontaminadas e reutilizadas, afirmam pesquisadores



Pesquisadores confirmaram que há diversos métodos eficazes para descontaminar máscaras N95 usadas por profissionais de saúde para que eles possam reutilizá-las, anunciou o Instituto Nacional da Saúde (NIH, na sigla em inglês) na última quarta.


Uma parte substancial da pesquisa já mostrou que as máscaras projetadas para uso único podem ser usadas mais de uma vez durante uma crise. E, em março, o Centro de Controle de Doenças (CDC, na sigla em inglês) autorizou a reutilização devido à escassez causada pela pandemia de Covid-19. Nas últimas semanas, o Food and Drugs Administration (FDA, agência sanitária americana) emitiu aprovações de emergência para vários sistemas de descontaminação de máscaras.
Nenhuma dessas regras ou métodos valem para as máscaras de pano de uso recomendado ou exigido em alguns locais para o público. O CDC aconselha a lavagem regular dessas máscaras de fabricação caseira numa máquina de lavar.
Pesquisas mais antigas, claro, não incluíam o novo coronavírus. O novo estudo, elaborado nos laboratórios Rocky Mountain do Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas, usou novos coronavírus vivos, formalmente conhecidos como SARS-CoV-2, para testar o material das máscaras. O trabalho determinou que processos de descontaminação eram mais eficientes e como eles afetavam a integridade desses equipamentos.
Vincent Munster, um dos autores do novo estudo, que colaborou com outros pesquisadores do governo e cientistas da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, disse que o trabalho foi realizado em cima de mais de uma década de estudos de descontaminação. "Mostramos que, na verdade, funciona tão bem para SARS-Cov-2 quanto para influenza e para bactérias", disse.
A pesquisa foi publicada no MedRxiv, site no qual cientistas divulgam artigos submetidos para publicação em outro lugar que ainda não passou pela revisão dos pares. Mas o NIH divulgou o estudo em razão de sua possível utilidade aos profissionais de saúde em meio a uma crise e por estar validando e estendendo um trabalho anterior sem sugerir métodos que já não tenham sido testados.
Munster e seus colegas de trabalho testaram quatro métodos para matar o vírus: por luz UV, por calor seco, por peróxido de hidrogênio vaporizado e por álcool etílico. Destes métodos, eles não recomendam o último, pois, embora o vírus tenha morrido, o material da máscara ficou degradado.
Os pesquisadores primeiro testaram amostras de N95 às quais o vírus vivo foi aplicado. Este trabalho foi realizado em um laboratório de biossegurança. Após o tratamento, eles cultivaram partículas virais do material para verificar se a blindagem permaneceu eficaz em evitar as transmissões.
Eles então utilizaram os mesmos métodos na máscara inteira sem o vírus para determinar se sua estrutura e funcionamento foram danificados após rodadas de descontaminações. Munster disse que mesmo que a descontaminação funcione perfeitamente, se a máscara não se encaixa mais no rosto "então obviamente sua máscara não é mais boa para reutilização".
Esterilização por peróxido de hidrogênio vaporizado, um método frequentemente usado em grandes hospitais, foi eficiente e deixou as máscaras funcionando ainda por três rodadas de descontaminação, assim como o método por luz UV.
A estratégia que usa calor seco, a 70 graus Celsius ou 158 graus Fahrenheit, foi eficiente, mas as máscaras resistiram a apenas duas rodadas de descontaminação. Munster disse que "o peróxido de hidrogênio vaporizado seria o método de escolha, se disponível". Mas, acrescenta, um lar de idosos pode não ter isso disponível, enquanto para o calor seco o que é necessário é apenas um forno.
Lynn Goldman, reitora da Escola de Saúde Pública do Instituto Milken, da Universidade George Washington, disse por e-mail que vê a nova pesquisa como uma "contribuição excelente". Segundo ela, "é muito útil ver que tanto o peróxido de hidrogênio vaporizado quanto a luz UV podem efetivamente esterilizar máscaras N95 e torná-las disponíveis para reuso até três vezes".
Outro estudo recente, de pesquisadores canadenses, também sem ter sido revisado pelos pares, confirmou o valor da descontaminação. Ele incluiu máscaras de marcas diversas e descobriu que o material das máscaras ainda era eficaz após dez rodadas de esterilização por peróxido de hidrogênio vaporizado.
Um dos autores do estudo, Anand Kumar, da Universidade de Manitoba, no Canadá, disse que este procedimento foi um pouco diferente do de Munster, pois não testou a estrutura e o encaixe facial da máscara. Apenas a capacidade de filtragem do material.
As recomendações e descobertas dos dois estudos devem ser úteis para instituições que têm profissionais de saúde usando máscaras N95. Com equipamentos de proteção individual em pouca quantidade em vários hospitais sobrecarregados, alguns funcionários da linha de frente, incluindo médicos e enfermeiros, reclamaram que as máscaras estão sendo racionadas.
O público tem sido alertado a não usar e nem tentar comprar máscaras N95 porque estariam privando os profissionais de saúde de equipamentos que salvam vidas.
"Mas, se fizerem isso, não devem tentar descontaminá-las", disse Kumar.
 conteúdo
James Gorman
New York Times
O Globo

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