A Grande Porção de Lixo (com maiúscula, mesmo)
é uma ilha de plástico de 1,6 milhões de quilômetros quadrados — três
vezes a área da França — que flutua em um ponto isolado do norte do
Pacífico, entre o Havaí e a costa oeste dos EUA. Ela é formada por uma
parcela das cerca de 2 milhões de toneladas de plástico que são
despejadas nos oceanos todos os anos— 1,15 milhões na estimativa mais
otimista, 2,41 milhões na pior das hipóteses. 60% desse lixo é menos
denso que a água e flutua. As correntes oceânicas fazem o resto do
serviço, arrastando as embalagens e afins para lá e para cá até que elas
se acumulem em pontos específicos — que são, de forma simplificada,
redemoinhos gigantes. Existem ao todo cinco ilhas de lixo:
mais uma no Pacífico, uma no Índico e duas no Atlântico. Todas se
formam nesses pontos de entroncamento das correntes, em que o movimento
da água se torna circular. Mas nenhuma delas chega aos pés da
“pioneira”. Um artigo científico
publicado na semana passada calculou que a Grande Porção de Lixo é
formada por cerca de 79 mil toneladas de plástico — 16 vezes mais do que
indicavam as estimativas anteriores. São cerca de 1,8 trilhão de
objetos individuais, e 92% deles são maiores que 5 milímetros. É difícil
ter uma noção real do tamanho das coisas na escala dos trilhões, então
vamos traduzir: 1,8 trilhão de segundos é o mesmo que 57 mil anos.
Enfileirando 1,8 trilhões de garrafas PET, dá para chegar na Lua e fazer
dois terços do caminho de volta. Para chegar a esses números literalmente astronômicos, pesquisadores
de seis universidades e uma ONG usaram dois aviões e mais de trinta
barcos. Além das redes de pequeno porte que costumam ser usadas para
coletar amostras para análise, foram usadas redes maiores — que pegam
qualquer coisa, até sofá. Foram retirados 1,2 milhão de objetos pelas
embarcações, e scanners 3D instalados nas aeronaves cobriram
uma área de 300 quilômetros quadrados. “Nós ficamos surpresos com a
quantidade de objetos grandes que encontramos”, afirmou em comunicado
a oceanógrafa Julia Reisser, chefe da expedição. “Antes, nós pensávamos
que a maior parte dos dejetos consistia em pequenos fragmentos.” A tecnologia usada para fazer essas novas medições é bem mais
avançada que a que estava disponível para ambientalistas na década de
1970, quando a ilha de lixo foi descoberta. Isso significa que não dá
para comparar diretamente as estimativas anteriores com a atual para ver
a progressão histórica da quantidade de plástico flutuante. Seja como
for, não há motivos para acreditar que o problema esteja se resolvendo
sozinho. “Não é possível tirar nenhuma conclusão firme sobre a
persistência da quantidade de plástico na mancha”, explica o oceanógrafo
Laurent Lebreton, também envolvido na pesquisa. “Mas como a taxa de
acúmulo de plástico é maior dentro da mancha do que na água ao redor, o
fluxo de chegada de plástico é maior que o de saída.” Outras descobertas do estudo, como as características do tipo de lixo
que costuma ficar retido na Grande Porção de Lixo, são valiosos para
organizar os esforços de limpeza, que já estão em andamento, mas são
muito, muito demorados. Um dia, quem sabe, essa ilha vai sumir do mapa.
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