"Tenho muita preocupação, tenho medo de que tudo vai parar", diz em um vídeo difundido no Youtube Renan Santos, um dos fundadores do grupo podre de extrema direita, Movimento do Brasil Livre (MBL).
"Se a gente perder essa luta contra a censura, nossa força vai acabar".
Grupos da direita podre brasileira, principalmente o MBL, lançaram nos últimos dias uma
intensa campanha contra a nova política do Facebook
para tentar evitar a divulgação de noticias falsas pela rede social.
Segundo esses grupos, a iniciativa do gigante tecnológico para combater
as chamadas fake news é um "ataque à liberdade de expressão" e
uma tentativa de "censura" instigada pela "extrema esquerda". "Querem
estrangular a direita brasileira", lamenta Santos na mesma mensagem. Em
vídeos e postagens publicados na internet, os ativistas tentam
desqualificar o trabalho das agências profissionais de checagem de dados
escolhidas como parceiras pelo Facebook e até divulgam perfis pessoais
dos jornalistas desses veículos para classificá-los como "militantes da
esquerda". A ironia é que dirigentes do MBL como o próprio Santos, Kim
Kataguiri ou Arthur do Val, mais conhecido pelo apelido de Mamãefalei, e
inclusive um deputado federal e um procurador da Justiça do Rio de
Janeiro, difundiram dados falsos para criticar o combate aos dados
falsos. Nesta semana, o Facebook lançou no Brasil seu programa de verificação de notícias, em parceria com as plataformas de checagem Aos Fatos e Agência Lupa,
as duas formadas por grupos de jornalistas independentes que vendem
seus conteúdos a diversos veículos de imprensa. A Lupa está ligada à
revista Piauí e tem entre seus clientes fixos o primeiro jornal do país, Folha de S.Paulo. Aos Fatos informa que seu financiamento é através de crowdfunding na internet e das parcerias con outros veículos. O Facebook escolheu as duas porque fazem parte da International Fact-Checking Network (IFCN), rede internacional de checagem de dados. De acordo com a rede social, as duas agências de verificação terão
acesso às notícias denunciadas pelos usuários do Facebook para analisar
sua veracidade. Se os conteúdos forem classificados como falsos, eles
terão sua distribuição reduzida de forma significativa e a plataforma de
Mark Zuckerberg
também não aceitará melhorar sua difusão através dos chamados
impulsionamentos pagos. Isso significa que as informações que forem
consideradas fake news não serão retiradas da rede social, mas
terão sua visibilidade bastante reduzida. Páginas no Facebook que
compartilharem com frequência notícias falsas também serão penalizadas
com reduções no seu alcance total e a proibição de publicar anúncios
para atrair audiência. O objetivo da iniciativa, segundo o Facebook, é fornecer um contexto
mais amplo às pessoas "para que tomem decisões mais informadas sobre o
conteúdo que consomem". A companhia afirma que nos Estados Unidos, onde o
mecanismo já está em operação, foi verificada uma redução de 80% de
notícias consideradas falsas por agências de checagem parceiras por lá.
Segundo a rede social, apenas no primeiro trimestre de 2018 foram
retiradas 583 milhões de contas falsas. A nova política do Facebook que
será aplicada no Brasil a partir da segunda-feira faz parte de reação da
companhia ao escândalo da Cambridge Analytica, a empresa que
presumidamente conseguiu através da rede social dados pessoais de 87
milhões de usuários para divulgar conteúdos falsos e apoiar as campanhas
do Brexit e de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos. Após o escândalo, o próprio Zuckerberg declarou: “Faremos tudo para garantir a integridade das eleições no Brasil” O MBL já sofreu indiretamente a nova política do Facebook há algumas
semanas. Em março passado, a companhia derrubou a página Ceticismo
Político, ligada a esse movimento, que estava registrada com um perfil
fraudulento e que difundiu notícias falsas sobre a vereadora assassinada
no Rio de Janeiro Marielle Franco para relacioná-la com a organização
criminosa Comando Vermelho. O próprio MBL compartilhou esses conteúdos no seu perfil do Facebook. Semanas mais tarde, a rede social baniu o aplicativo Voxer depois de que uma reportagem do jornal O Globo desvendasse que era usado pelo MBL para replicar conteúdos nas timelines dos usuários como se fossem publicados por eles próprios. O Voxer, contudo, foi criado com incentivo do próprio Facebook, que convidou um dos seus idealizadores para a Conferência Anual de Desenvolvedores da gigante tecnológica. A rede, porém, após ver-se questionada globalmente sobre seu papel
social, incluindo a cultura do ódio que se impregnou em diversos países,
tem ajustado rotas de atuação, sobre tudo para entravar o tráfego de
conteúdos fraudulentos. No Brasil, após o anúncio da aplicação da nova
política de combate às fake news, a reação de alguns dos mais conhecidos grupos e ativistas de direita radical na internet tem sido furiosa.
Os principais dirigentes do MBL se envolveram na campanha para
denunciar uma conspiração esquerdista com o intuito, como disse Renan
Santos, de "estrangular a direita" no Brasil. Segundo Mamãefalei,
a origem de tudo está na ideologia esquerdista que, segundo ele, domina
no Vale do Silício. "Todo mundo sabe que o algoritmo do Facebook
censura a direita", disse Arthur do Val, apesar dos inúmeros indícios de
que a rede social foi usada de maneira massiva para, por exemplo, turbinar a campanha de Trump nos EUA,
e a própria difusão que o MBL alcançou no Brasil através dessa rede
social. O Facebook também tem derrubado sites mais identificados com o
público de esquerda, cuja origem do conteúdo não se demonstrou
confiável. Além de atacar a companhia de Zuckerberg, esses grupos
iniciaram uma campanha para desqualificar os jornalistas que trabalham
nas agências escolhidas como parceiras para a comprovação de fatos. Nos
últimos dias foram publicadas fotografias deles e detalhes de seus
perfis nas redes sociais. A Associação Brasileira de Jornalismo
Investigativo (Abraji) publicou uma nota para se solidarizar com os profissionais das agências de verificação e denunciar: "perfis
pessoais de colaboradores dos veículos em redes sociais têm sido
vasculhados e expostos em montagens, como supostas evidências de que as
agências de checagem estariam a serviço de uma ideologia. Em alguns
casos, fotos de cônjuges e pessoas próximas aos profissionais também
foram disseminadas junto a afirmações falsas e ofensivas". Muitas das acusações de membros de grupos como o
MBL estão embasadas em falsidades. Colocam a Agência Pública, que tem o
seu próprio serviço de checagem de dados, como uma das parceiras do
Facebook e mesmo difundem também dados de seus jornalistas. Kataguiri,
Renan Santos e Mamãefalei asseguram que o principal responsável por
decidir sobre os conteúdos falsos seria o jornalista Leonardo Sakamoto,
definido por Santos como "um dos grandes cânceres do jornalismo
brasileiro". Sakamoto nem é dono da Agência Pública, como afirmam alguns
dos ativistas, nem tem ligação com os parceiros escolhidos pelo
Facebook. A falsa notícia sobre Sakamoto inclusive foi disseminada pelo procurador do Rio de Janeiro Marcelo Rocha Monteiro na sua conta do Facebook e pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro. Em um artigo publicado no passado dia 15, intitulado Censurar as Fake News: a guilhotina esquerdista do século XXI,
o filho do líder da extrema-direita reforça que o Facebook escolheu
Sakamoto para a verificação de notícias falsas e se pergunta: "seria
Zuckerberg mais um discípulo de Lula?". Nos seus vídeos, os dirigentes do MBL lamentam
que a nova política do Facebook pode prejudicar os candidatos da direita
na eleição de outubro, dentre eles Jair Bolsonaro, e anunciam uma
campanha para que o Congresso brasileiro atue contra a rede social.
Segundo Mamãefalei, o objetivo é pressionar para que os parlamentares
criem uma CPI sobre a nova política da rede social.
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