O PT esticou até praticamente o último minuto o suspense sobre quem seria indicado a vice na chapa de Luiz Inácio Lula da Silva, candidato do partido à Presidência apesar de estar preso e virtualmente impedido de concorrer por causa da Lei Ficha Limpa. A espera que entrou noite adentro no domingo não trouxe surpresas: o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad ficou com a vaga e ganhou, no último suspiro do prazo legal, o apoio do PCdoB. A pré-candidata comunista Manuela D'Ávila abriu mão de sua candidatura a presidenta e será uma espécie de vice stand by - por enquanto, não tem o posto, mas uma vez definida a situação de Lula, será a companheira de chapa do próprio ex-presidente, uma possibilidade considerada remotíssima, ou de Haddad.
Dada a situação, o ex-prefeito começa o percurso de vice,
mas com o escrutínio de um cabeça de chapa - Lula lidera as intenções de
voto, e o Haddad, quando posto nas simulações, não decola nas
pesquisas. Se não está envolvido nos megaescândalos de corrupção que
marcaram a reunião do PT, o ex-prefeito tampouco foi bem em sua última
campanha: ele perdeu a disputa pela prefeitura de São Paulo para João
Doria em 2016.
As redes sociais do partido já divulgaram imagens da dupla
Lula-Haddad. Foi a explicitação do Plano B do PT: o partido vai insistir
até quando possível no nome do ex-presidente, mas não deve flertar
demasiado com o abismo legal, como era ventilado numa ala do partido
considerada mais radical. Uma prova disso aconteceu neste próprio
domingo. Enquanto na sexta Gleisi afirmava que o prazo legal para
apresentar as candidaturas era dia 15 de agosto, neste domingo, mesmo
reclamando publicamente, a decisão do PT foi seguir a recomendação do
TSE (Tribunal Superior Eleitoral) de apresentar as chapas até esta
segunda-feira.
As negociações na reta final com o PCdoB transpareceram
tensas. "Cada um tem seu jeito, sua vida. Vou sair da minha casa agora,
22h, domingo, ficar longe de meus filhos que vejo tão pouco, para uma
reunião com a direção do PT. Espero que se justifique, né?", queixou-se
no Twitter Orlando Silva, integrante do PCdoB e ex-ministro de Lula,
sobre as negociações neste domingo. Seja como for, o PCdoB cedeu. Após
ensaiar não apoiar os petistas pela primeira vez em sete eleições, os
comunistas aceitaram. Além do discurso de Manuela D'Ávila de que o
partido trabalharia pela união do chamado campo progressista, pesou
também o temor do PCdoB pela própria sobrevivência: as alianças
regionais com o PT são importantes para ultrapassar a cláusula de
barreira. Apesar da situação esdrúxula, Manuela se transforma na
terceira vice mulher entre as candidaturas tidas como competitivas num
momento de fortalecimento do movimento feminista no país e quando elas
são a maioria do eleitorado e a maioria do contingente de indecisos
neste momento.
Gosto amargo para Ciro Gomes, mas também para o PSB
Enquanto a novela PT-PCdoB se esticou até o último minuto, a
do PSB encerrou-se com um gosto amargo para a sigla: nenhum partido
político concluiu a sua convenção nacional tão rachado quanto os
socialistas. O partido realizou sua convenção nacional e confirmou que ficará neutro no pleito, uma decisão que sufoca Ciro Gomes (PDT)
e, por tabela, beneficia Geraldo Alckmin (PSDB) e o PT. Se já havia
ficado isolado coma decisão do PSB, a vitória do PT com o PCdoB
fortalece a candidatura do PT, mesmo com problemas maiúsculos, como a
mais competitiva no campo progressista.
O clima acirrado entre os delegados no congresso deste
domingo foi um retrato das divisões internas do partido. Quando Carlos
Siqueira, presidente do PSB, apresentou a proposta de neutralidade, o
salão do hotel em Brasília que recebeu a reunião se dividiu entre vaias e
aplausos. “Um partido sem posições diferentes é um partido
autoritário”, minimizou Siqueira, logo após o encontro.
O PSB tem atualmente uma bancada de 26 deputados
federais e é dono de cerca de 40 segundos no horário eleitoral. Por
isso, era visto como a sigla que poderia resgatar Ciro Gomes do
isolamento depois que o pedetista foi rejeitado pelo Centrão (grupo de cinco partidos políticos de centro-direita que terminaram fechando uma coligação com Alckmin). O próprio Siqueira não escondia de aliados que preferia uma aliança eleitoral com Gomes.
Prevaleceu, no entanto, a vontade dos caciques dos
diretórios regionais mais importantes do PSB, entre eles Pernambuco e
São Paulo. Ironicamente, o governador pernambucano, Paulo Câmara, e o
paulista, Márcio França, uniram forças para beneficiar dois inimigos
históricos que tinham interesse em isolar o pedetista. Câmara defendeu a
neutralidade dos socialistas para atender uma demanda do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
cabo eleitoral praticamente imbatível em seu Estado. França, por sua
vez, agiu para ajudar Alckmin, seu padrinho político e candidato à
presidente da República.
A ala do PSB que defendia apoiar Ciro Gomes foi derrotada
na votação deste domingo que sacramentou a neutralidade, mas as sequelas
do embate ficaram evidentes. “Infelizmente a força convencional de
Pernambuco e São Paulo é muito grande e a vontade dos outros Estados não
foi capaz de superar essa força para defender a candidatura do Ciro
Gomes”, disse o governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg.
Vácuo
Legenda de porte médio, o PSB perdeu em 2014 a seu
principal expoente, o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, morto
em um acidente aéreo. Desde então, os socialistas não conseguiram
encontrar uma liderança com força para unificar as diferentes facções da
sigla. Uma situação que neste ano foi agravada por outro vácuo, a
desistência do ex-presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, de disputar a presidência.
Embora neófito no PSB, Barbosa aparecia nas sondagens com 10% da preferência do eleitorado e figurava como um outsider
com chances reais de chegar ao Palácio do Planalto. Sua recusa em se
lançar na corrida presidencial acentuou o conflito interno entre os que
queriam apoiar Ciro, o PT ou mesmo Alckmin. Como não havia forma de
conciliar os diferentes interesses e a neutralidade trazia algum
benefício aos aliados de petistas e tucanos, venceu a tese de não
realizar uma aliança no cenário nacional. "Talvez ela [a neutralidade]
seja a decisão menos traumática do partido, mas de forma alguma mostra
uma unidade", avalia Marco Antônio Teixeira, professor de ciência
política da Fundação Getúlio Vargas.
A fratura mais sentida no partido ocorreu em Minas Gerais e criou um
impasse que ainda não foi solucionado. O PT havia condicionado retirar a candidatura de Marília Arraes
ao Governo de Pernambuco, o que acabou acontecendo neste domingo apesar
da resistência da petista, a um gesto semelhante por parte do
ex-prefeito de Belo Horizonte, o socialista Márcio Lacerda, que aparecia
em terceiro nas pesquisas de intenção de voto na corrida pelo comando
de Minas Gerais. Lacerda, entretanto, não aceitou ser apenas uma “baixa
colateral” do acerto celebrado pela cúpula do PSB. Ele realizou a
reunião estadual que o oficializou candidato ao governo do Estado no
sábado e entrou na convenção nacional deste domingo cobrando um preço
para desistir das suas pretensões: que o PSB local não se alie
formalmente ao petista Fernando Pimentel. Até esta segunda-feira, último
dia que os partidos têm para comunicar a Justiça eleitoral do resultado
das suas respectivas convenções, os socialistas correrão contra o tempo
para tentar encontrar um arranjo em Minas que atenda os interesses do
ex-prefeito de Belo Horizonte. "Eu não posso [me aliar ao PT] de jeito
nenhum. Eu não vou ter os votos do PT e perco os votos que eu tenho”,
justificou Lacerda.Os candidatos e seus vices
Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Fernando Haddad
Ciro Gomes (PDT) e Kátia Abreu (PDT)
Geraldo Alckmin (PSDB) e Ana Amélia (PP)
Marina Silva (REDE) e Eduardo Jorge (PV)
Álvaro Dias (PODEMOS) e Paulo Rabello (PSC)
Henrique Meirelles (MDB) e Germano Rigotto (MDB)
Guilherme Boulos (PSOL) e Sonia Guajajara (PSOL)
João Amoêdo (NOVO) e Christian Lohbauer (NOVO)
Ciro Gomes (PDT) e Kátia Abreu (PDT)
Geraldo Alckmin (PSDB) e Ana Amélia (PP)
Marina Silva (REDE) e Eduardo Jorge (PV)
Álvaro Dias (PODEMOS) e Paulo Rabello (PSC)
Henrique Meirelles (MDB) e Germano Rigotto (MDB)
Guilherme Boulos (PSOL) e Sonia Guajajara (PSOL)
João Amoêdo (NOVO) e Christian Lohbauer (NOVO)
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Ricardo Della Coletta
Afonso Benites
Flávia Marreiro
São Paulo
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El País
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