Depois de anunciar que indicará um diplomata de carreira para assumir
o Itamaraty, o presidente eleito Jair Bolsonaro se concentra em dois
nomes, cotados como mais fortes para assumir a pasta: o atual embaixador
brasileiro em Seul, Luiz Fernando de Andrade Serra, e o embaixador
aposentado José Alfredo Graça Lima, disseram à Reuters duas fontes com
conhecimento do assunto. O nome de Serra, que conheceu o
presidente eleito durante sua visita à Coreia do Sul, em março deste
ano, cresceu recentemente nas conversas da equipe de transição. Segundo
uma fonte com acesso ao gabinete de transição, Serra tem sido bem
avaliado nos bastidores da equipe pelo perfil atuante. Serra
entrou na carreira em 1974 e chegou ao grau de ministro de 1ª classe -o
nome formal do cargo de embaixador- em 2005. Antes de chefiar a
embaixada em Seul, foi o embaixador brasileiro em Cingapura e em Gana.
Também serviu em Santiago, Paris e Berlim, entre outros. O
embaixador é visto como um ótimo quadro no Itamaraty, mas ainda “verde” e
sem tanta representatividade dentro da carreira, até por estar há pouco
tempo no topo da carreira. No entanto, tem a vantagem de ser um dos
poucos nomes com quem Bolsonaro teve uma interação direta. O presidente
eleito comentou mais de uma vez que teria ficado bem impressionado com a
recepção que teve em Seul por parte do embaixador. Do
outro lado, Graça Lima é um veterano e um dos nomes mais experientes do
Itamaraty. Muito próximo do ex-chanceler Luiz Felipe Lampreia e um
especialista em negociações internacionais, foi colocado no ostracismo
durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, em que o Itamaraty foi
chefiado por Celso Amorim, e colocado em cargos considerados “menores”.
Graça Lima foi reabilitado por Antonio Patriota, no governo de
Dilma Rousseff, quando foi chamado para ser subsecretário-geral Política
II, que cuida de Ásia e Pacífico, e se aposentou em 2016. Hoje é,
indicado pelo governo brasileiro, consultor do órgão de apelação da
Organização Mundial do Comércio (OMC). Dentro do Itamaraty, o
nome de Graça Lima seria comemorado, de acordo com uma fonte, como um
“gol de placa”. No entanto, fonte próxima ao embaixador afirma que ele
não foi sondado ou procurado, apenas teria ouvido informações de
“amigos” de que seu nome estaria sendo cotado. O embaixador nem mesmo
conhece pessoalmente o presidente eleito. Mais cedo, em
entrevista, Bolsonaro afirmou que está buscando um diplomata para
comandar o Ministério das Relações Exteriores e traçou o perfil. “Estou
buscando alguém que faça comércio, conduza essa parte sem o viés
ideológico, nem de direita nem de esquerda. Tem vários nomes, vários
não, alguns poucos que estamos estudando”, disse. “Assim como na Defesa
vai ser um 4 estrelas, no Itamaraty vai ser um diplomata.” Um
terceiro nome, do embaixador Ernesto Araújo -que ficou conhecido por
criar um blog em que defende publicamente as ideias no presidente
eleito- é cotado hoje para assessor internacional da Presidência. As
recentes turbulências causadas por declarações de Bolsonaro em relação à
política externa trouxeram a escolha do novo chanceler para a frente
das prioridades do governo. Esta semana, o Egito cancelou uma visita do
ministro Aloysio Nunes e de uma missão de empresários por conta das
declarações do presidente eleito de que pretende transferir a embaixada
brasileira em Israel de Telaviv para Jerusalém. Além disso,
declarações sobre o comércio com a China foram questionadas pelo governo
daquele país, maior parceiro comercial do Brasil hoje. Também na
América Latina o novo governo causou estranheza depois do futuro
ministro da Economia ter dito que o Mercosul não seria prioridade e do
próprio Bolsonaro ter anunciado que sua primeira visita seria o Chile -a
tradição é que o presidente brasileiro visite primeiro a Argentina,
maior parceiro comercial na região.
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