Na última semana, circulou com força pelas redes sociais o relatório Gender in the Global Research Landscape, que destaca o Brasil como um dos exemplos de sucesso em promover a igualdade entre homens e mulheres no ambiente acadêmico. O documento, feito pela editora Elsevier, é de 2017 e leva em conta dados de artigos científicos escritos entre 1995 e 2015. Nesses 20 anos, as mulheres
brasileiras passaram a assinar a mesma proporção de artigos científicos
que os homens (50%-50%) – um crescimento considerável, já que, entre
1996 e 2000, só 38% dos artigos publicados tinham sido escritos por uma
mulher. Os níveis de participação do Brasil
foram os mais altos do relatório, empatando com Portugal: em ambos os
países, 49% dos artigos vinham das mãos de uma cientista mulher. Levando
em consideração o tamanho das populações, o número absoluto de artigos
publicados por mulheres brasileiras nessas duas décadas é massivamente superior ao de papers lançados no país europeu. Em outros países de referência, como
EUA e Reino Unido, a participação de autoras femininas fica em cerca de
40%, segundo os dados entre 2011 e 2015. Por último, vinha o Japão, onde
elas assinam só 20% dos papers. Outras facetas positivas do Brasil
aparecem no relatório. Aumentou o número de inventoras brasileiras: elas
registram 17% das patentes criadas desde 2000. O índice é novamente
mais igualitário que nos Estados Unidos, onde 86% dos inventores são
homens. A única notícia ruim do relatório é
que as mulheres permanecem sendo menos citadas que seus colegas homens
em outros artigos – e isso é verdade não apenas no Brasil, mas em outros
países latinos, como Chile e México. Um importante fator de desequilíbrio
entre gêneros no ambiente acadêmico, porém, não foi levado em conta pelo
estudo. Trata-se do chamado de leaking pipe (basicamente,
“um cano que vaza”): no início do ensino superior, as mulheres estão
presentes na mesma quantidade e até são maioria entre os pesquisadores
(principalmente nas áreas de humanas e biológicas). A participação delas diminui no
mestrado e cai ainda mais no doutorado. O resultado é que os índices são
muito diferentes (e bem menos otimistas) para posições sêniores da
academia, onde os homens chegam a dominar 87% dos cargos. A maioria dos relatórios anuais sobre educação e gênero, como o Relatório de Monitoramento Global da Educação da Unescomostra
que, além de atrair mulheres para academia e garantir a participação
delas (como autoras de artigos, por exemplo), é importante identificar
os principais pontos de vazamento do cano – ou seja, não só descobrir como incluir mulheres na academia, mas como não perdê-las.
0 Comentários